A criatividade há muito tempo deixou de ser vista como um “dom”, um talento que só algumas pessoas possuem, e passou a ser entendida como uma habilidade passível de ser estimulada e aprendida. Atualmente, a criatividade, assim como o conhecimento, é mais uma área a ser desenvolvida nas escolas, e hoje é parte essencial da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
No Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, a função da criatividade e da inovação é indicada como indispensável. Já o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), fará em 2022 uma avaliação inédita focada no pensamento criativo dos estudantes de todo o mundo. Com esses registros em nível nacional e internacional fica clara a importância dada à criatividade na educação contemporânea.
O professor do século XXI
No artigo “O que se espera de uma educação criativa no futuro”, a autora Maria Helena Novaes, PhD em Psicologia e docente da PUC-Rio, pontua que “uma educação criativa é imprescindível para enfrentar as rápidas mudanças na sociedade futura onde predominam a realidade virtual, a linguagem digital e o pensamento visual”.
Em 2020, a pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 acelerou ainda mais essas exigências, fazendo com que a educação e o corpo estudantil precisassem se adaptar rapidamente a um cenário de aulas exclusivamente online. Fixar a atenção dos alunos ficou ainda mais difícil nessa nova realidade, exigindo aulas mais dinâmicas e atividades que promovam mais engajamento e protagonismo do estudante. Na ausência do quadro negro, a criatividade se tornou essencial no dia a dia escolar.
Algumas características definem o “professor do século XXI”. Segundo a especialista em tecnologia educacional Tsisana Palmer, estar envolvido no mundo digital é a principal delas. Professores engajados nas redes sociais e que buscam integrar as atividades de ensino a recursos tecnológicos são capazes de oferecer discussões digitais para somar ao clássico lápis e papel.
Plataformas integradas que permitem o acesso e compartilhamento de informações de forma organizada e engajada são essenciais. Um exemplo disso é o uso de portfólios digitais, vantajosos tanto para os professores quanto para os alunos, por reunirem em um só lugar as atividades e projetos escolares, além de permitirem a construção de uma rede social educacional, com acesso rápido e prático aos materiais produzidos em apenas um clique.
A criatividade na sala de aula
Vista como uma aliada da educação, o uso da criatividade em sala de aula cumpre diversos papéis: facilita o entendimento e a apreensão do conteúdo, faz com que o aluno desenvolva as suas próprias capacidades criativas, instiga a procura por mais conhecimento e estimula o desenvolvimento socioemocional.
A criatividade é uma excelente ferramenta do professor contemporâneo. Sabemos que os jovens estão cada vez mais envolvidos no mundo da tecnologia e que, para falarmos na linguagem deles, precisamos nos reinventar cotidianamente. Dessa forma, o uso de mídias digitais e jogos virtuais na educação tem sido cada vez mais incentivado em toda a idade escolar. Veja abaixo algumas dicas para a construção de planos de aula mais criativos e inovadores.
Como fazer um plano de aula gamificado?
Em pesquisa realizada pela Newzoo, empresa internacional de estudo de mercado focada na indústria de jogos, o Brasil é o quarto maior mercado do mundo no segmento de jogos digitais. Ou seja, a maioria dos nossos jovens está jogando algum tipo de game nesse exato momento. Aliando- se a isso, a educação busca cada vez mais se aproximar dessa realidade. O termo “gamification” foi criado ainda em 2002 pelo programador e desenvolvedor de jogos britânico Nick Pelling, correspondendo ao uso da lógica e da dinâmica dos games para engajar pessoas em um contexto de aprendizagem.
A gamificação permite o desenvolvimento de jogos que promovam a alfabetização, a compreensão numérica, o ensino de outras línguas e basicamente qualquer outro conteúdo escolar. Um dos exemplos é o uso do jogo Minecraft, que recentemente desenvolveu uma versão exclusivamente voltada para a educação. Ultrapassando o Tetris como o jogo mais vendido da história, o game permite a criação de diferentes cenários no mundo virtual a partir de blocos. Desenvolvendo a criatividade através da tecnologia, o Minecraft é uma excelente ferramenta educacional. Os professores podem trabalhar com o jogo nas aulas de Geometria, Matemática, Geografia e até História. Por exemplo, em uma aula sobre a Idade Média, os alunos podem aprender e fixar o conteúdo através da prática, construindo castelos medievais ou outras construções desse período histórico.
O famoso game Among Us também é excelente para desenvolver o trabalho em equipe, enquanto clássicos como o Xadrez, o quebra-cabeça e o Tangram podem ser usados para promover o raciocínio. A lista de jogos é infinita. Além dessas dicas, sites como o Escola Games podem auxiliar os professores a fazer um plano de aula gamificado.
Recentemente, o Ministério da Educação, no âmbito da Política Nacional de Alfabetização, lançou o Graphogame, um jogo virtual educativo para crianças da pré-escola e dos anos iniciais do ensino fundamental. Já sucesso em mais de 30 países, o aplicativo está disponível gratuitamente e já é utilizado em escolas de todo o país.
Como usar o audiovisual na educação?
Em entrevista ao site Gizmodo 2 , a pesquisadora Luciana Corrêa explica que em um levantamento realizado em 2016, descobriu que dos 100 canais de maior audiência do Brasil, 48 eram voltados para crianças. Através de vídeos, o acesso a uma infinidade de informações fica cada vez mais fácil e divertido. Dessa forma, o uso do audiovisual ganha cada vez mais espaço e mais potência na sala de aula. Visando o desenvolvimento criativo dos alunos, a utilização de filmes, curtas, vídeos ou até documentários promove a imaginação, a reflexão e a investigação.
Com isso em mente, diversos sites e plataformas foram desenvolvidos para facilitar a construção de planos de aulas mais inovadores e criativos através do uso do audiovisual. A plataforma de streaming Tamanduá Edu une educação e entretenimento a partir de mais de mil filmes e séries separados por etapa de ensino e classificados conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Nessa plataforma o professor tem acesso a trilhas formativas com materiais audiovisuais separados por áreas do conhecimento, incluindo Gestão Ambiental, Literatura e Arquitetura.
Outra plataforma interessante para auxiliar a promoção da educação criativa através de materiais audiovisuais é o Curta na Escola. Utilizando como base curtas nacionais e internacionais, a plataforma apresenta planos de aula com propostas de atividades desenvolvidas por profissionais da educação. Em uma plataforma de trocas de experiências, essa rede social para gestores e professores permite comentários e avaliações dos planos desenvolvidos. As aulas e as atividades são preparadas a partir dos curtas-metragens, que servem como inspiração e referência para a produção dos alunos. Um dos planos de aula publicados na plataforma busca incentivar a produção de vídeos curtos pelos alunos. Dando protagonismo aos estudantes, a criatividade ganha a liberdade para se desenvolver.
Referências:
NOVAES, Maria Helena. O que se espera de uma educação criativa no futuro. In: Resumos de Comunicações Científicas da 14ª Conferência do World Council for Gifted and Talented Children, 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pee/a/qJX93xYMkGvjn3P3FdTXtbh/?lang=pt&format=html
PALMER, Tsisana. 15 Characteristics of a 21st-Century Teacher. Edutopia, 2010. Disponível em: https://www.edutopia.org/discussion/15-characteristics-21st-century-teacher